quinta-feira, 24 de outubro de 2013

E Agora?

“E agora?” O conflito entre o Ímpeto Criativo e as Trevas do Compromisso era gritante. Toda a inspiração definhou frente ao súbito acúmulo de espessas nuvens de temporal. No lugar de trovões ecoava o “Preciso escrever algo hoje!”. Nada mais frustrante que o “Preciso”. Por que não “Quero”? Por que não “Desejo”? Até mesmo o “preciso” valeria, se fosse “necessidade”, não “dever”.

“É agora!” Não que houvesse quem cobrasse, quem definisse prazos. O prazo foi dado por mim, e não poderia me trair. Um escritor que não existe - William Forrester - ensinou, certa vez, um escritor que não é - Eu - “Apenas comece a escrever!”. Comecei. “É agora?”. Como definir se o produto de uma ação sem ímpeto é digno de manutenção? “Del” ou “Publicar”? Que diferença faria? A escrita é para o leitor ou para o escritor? Parece que nasce da necessidade de materializar o imaterial. Sentimento no papel. Cor para o espírito.
É um fenômeno interessante: No espírito está o puro – não leia “puro” como “santo”, mas preferencialmente “pleno” e “inalterado”- mas, de alguma forma, igualmente obscuro. “Contradição” Tudo na vida humana é mediato, exceto o interior do espírito. Como, então, justo isto poderia ser obscuro? Mas era. Mas é. Pôr o imediato num meio, apesar da obvia depreciação ocorrida com o conteúdo durante o ato, ajuda a esclarecê-lo. Pus o espírito na folha virtual e fitando aquela cópia absurdamente infiel, compreendi-o melhor.
“É agora?” Se não for, não virá a ser.
“É agora!” Comecei, segui, mais assisti que produzi.

“E agora?” Agora releio, lapido, amplio, aprendo. No obscuro trazido à luz pude apreender aquilo de mim que transcendia as Trevas do Compromisso. Dissipava as nuvens e emudecia o “preciso…”. Superava até mesmo o Ímpeto Criativo. Sinto-me, AGORA, livre de dever e de impulso, livre para o novo, este velho há tanto tempo perdido nas infinitas distâncias do “dentro”. Acho que é agora; pretendo, apenas, começar a escrever.

Nenhum comentário:

Postar um comentário