sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

#Verborragia: Sublime

      Para entender a Verborragia clique aqui e participe. A palavra de hoje é "Sublime". Importa registrar que eu tinha (todos temos) noção do significado da palavra, mas ao pesquisar para compreendê-la melhor, tomei consciência da responsabilidade imensa que é/seria abordá-la. Bora lá.

      Passos no escuro. Tudo totalmente escuro. Não aquele escuro turvo, manchado de impressões luminosas no fundo dos olhos, comum no momento que apagamos a luz.

      Passos no escuro e não existia mais nada, apenas o som dos passos. Quando você dorme seus olhos vão, pouco a pouco, apagando as impressões -as manchas- deixadas pela luminosidade. Se você acorda ainda no escuro este escuro é diferente, especial, puro.

      Depois da existência dos passos, percebida pelo som e pelo tato dos pés, uma outra existência nasceu. "Faça-se o Ar", e então notou que respirava.

      Uma terceira existência se fez, a "Dúvida". O ente, confuso, não sabia se o som dos passos e a percepção da respiração eram existências distintas, como que dois seres avulsos, ou se convergiam em um único ser, ele mesmo.

      Mais passos, mais fôlego, mais dúvida. Andou quilômetros? Horas?  Não tinha certeza. Um novo ser se fez, e então havia a "Parede". Com as mãos tateou, intuindo a presença de algo mais. Foi recompensado com o toque do interruptor.

      O primeiro impulso foi realizar o movimento que traria a luz ao mundo, mas antes da luz havia experimento a pureza das trevas e viu que era boa.

      Naquele universo não havia bem e mal, portanto, luz e trevas não representavam qualquer conflito, eram apenas faces diferentes da eterna beleza. Tudo era belo. Tudo era puro. Tudo era bom.

      Reteve-se um pouco mais, admirando a impossibilidade de enxergar e, ainda assim, via. Nova criatura se fez com a percepção de um tilintar pacífico e suave; próximo, mas não imediato: "Chuva". Tudo era bom.

      Um novo ente se fez e seu nome era "Ausência". Ela nasceu quando ele notou que não tinha medo do escuro, estando ausente qualquer preocupação. Nessa ausência continuou retendo-se e nesse ato surgiu o "Pecado". Seria pecado acender a luz?

      Novo fôlego num trago profundo de ar invisível; Aspiração tão profunda e demorada quanto o desejo de eternizar aquele momento. Ambos, momento e fôlego, eram inexoravelmente insustentáveis.

      Nasceram então gêmeos. O mais velho, separado do caçula por segundos, se chamava "Memória" e seu irmão era "Sublime", a lembrança da palavra, do conceito, do significado.

      A penúltima criatura era "Quase", que tomou "Sublime" por consorte e então tudo fez sentido. Aquela experiência única, imensa, magnífica, profunda, era quase sublime. Por que não plenamente sublime? Se é que sublime carecia de "plenamente" para fazer-se entender.

      Memória, virgem, pariu "Plenitude" e então lembrou-se que pleno foi o momento anterior às trevas.

      Despido de roupas, preocupações e pecado, acionou o interruptor: "Fiat Lux!".

      Antes que os olhos se habituassem à multidão de novas existências uma voz doce, ancestral, anterior à luz e às trevas, geratriz de tudo que era sublime, perguntou, pediu e decretou: Você pode me trazer um copo de água, por favor?

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