Seguiram caminhando por quase uma hora, sem tecer qualquer comentário e
sem a mínima alteração na paisagem. Por vezes, um apertava o passo e, à frente
do outro, bebia água e molhava o rosto enquanto esperava ser alcançado. A cada
passo, com o suor brotava da pele também a dúvida se valia a pena o esforço. Marcus
imaginava que poderiam passar dias sem nada encontrar, se é que havia qualquer
coisa a ser encontrada, uma vez que não se podia perceber qualquer alteração na
paisagem à frente, enquanto a muralha se fundia com o horizonte. Como se
adivinhasse o pensamento do companheiro, Valdomiro quebrou o silêncio:
- Sabe, Rapaz? Eu tinha medo de me aposentar! Depois de tantos anos trabalhando, imaginava que morreria se não tivesse o que fazer. “Tamu” andando sem destino, mas pelo menos é alguma coisa! Melhor que me aposentar e morrer doido lá naquele canto em que estávamos. Sempre gostei de pescar, mas ter só a pesca para fazer, para o resto da vida, não seria lá muito divertido.
- Ta aí! Como você consegue fazer isto? Pegar um peixe com um arpão é
coisa que vi só na TV! Na verdade Marcus jamais havia pescado, assim, qualquer
tipo de pesca que tivesse visto na vida havia sido através de um televisor.
Valdomiro passou alguns instantes a gargalhar, antes que recuperasse o fôlego
para responder.
- Rapaz, você deve ter visto tatu só em Zoológico né? Pois eu caçava o
bicho na toca e isto era como picanha pra minha família, lá no norte. A pesca
aprendi com meu pai, que contava ter aprendido com os índios que viviam por
aquelas bandas quando ele chegou por lá. Eu mesmo nunca vi índio. Dizia que entraram
cada vez mais fundo no mato, enquanto a cidade crescia, até que não se viu mais
eles. Cresci na base de feijão e farinha. No domingo, peixe ou frango. Na seca,
tatu. Vim pra cá moço, em busca de uma vida melhor. Minha mulher, conheci aqui
mesmo. Mundo pequeno de merda! Ela era de uma cidade grudada na minha e mesmo
assim nunca a vi por lá. Aqui vivemos de forma simples, mas felizes. Agora
tenho uma casa com piscina – Apontou para o mar imóvel - mas tudo o que eu
queria se foi.
Respeitando a dor no guardião, Marcus não perguntou mais nada. Parou com
a mão de Valdomiro interrompendo sua caminhada. Com a outra mão o homem da
lança apontava o norte, mas Marcus nada via. Depois percebeu algum movimento na
água, próximo à margem, mas não era capa de ver o que o causava. Era apenas um
ponto no qual a água ficava turva, quebrando a perfeição do espelho que se via
em todo o resto do hídrico plano. Sem qualquer palavra, puseram-se a correr.
Continua em #Vazio - Outra Manhã (13)
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