quarta-feira, 23 de novembro de 2011

#Vazio - Outra Manhã (13)

A perturbação na água estava mais distante do que parecia e após quase trinta minutos de corrida na velocidade máxima permitida por cada um dos dois corpos, caíram ambos de joelhos no chão.
- Não é possível. Essa coisa parece fugir da gente!
- Ou isso ou está mesmo muito longe.
Nenhum dos dois tinha fôlego para qualquer outra palavra. Ficaram ali por alguns minutos, respirando, descansando e viajando cada qual em seus próprios pensamentos. Habituado a acompanhar o sol, Marcus notou que este já havia decido uns quarenta e cinco graus, o que indicava que era aproximadamente três horas da tarde. Apesar do calor e da total ausência de nuvens, a situação não era insuportável. A água das margens do oceano estava sempre fresca, compensando a ausência de vento. A umidade do ar não era alta, facilitando a atividade refrigeradora do suor. Marcus percebeu que Valdomiro se levantara, sendo claro que já era hora de continuar em frente, ainda que nenhum comando para isto tenha sido dado. Juntou-se ao companheiro e seguiram, ansiosos, mas bem menos impetuosos.
Em uma hora de caminhada forçada, mas sem correr, a perturbação na água não parecia estar um milímetro mais próxima, por outro lado, Marcus tomou o cuidado de atentar-se a pequenos detalhes característicos da trilha que seguiam, o que lhe permitiu perceber que a coisa não se afastava, pois ficava próxima à ranhuras na estrada, a qual àquela distância não passava de uma faixa muito fina. O que quer que fosse, estava demasiado distante. Ele respirou fundo e renovou sua determinação, como fez no primeiro dia, quando estava decidido a alcançar a Serra sobre a qual agora caminhava. Valdomiro não dizia nada, tampouco reduzia o passo, apresentando a mesma determinação de Marcus. O solo por onde caminhavam mudava progressivamente de macio e argiloso para algo mais firme. Ocasionalmente passavam por áreas de cascalho. Em outros momentos, caminhavam por um plano maciço, como que esculpido em uma única rocha imensa. Não fossem estas sutis variações do solo e a ausência da decida pela qual Marcus chegara ao cume, seriam incapazes de dizer que realmente haviam saído do lugar, pois para qualquer lado que se olhasse o mundo parecia idêntico. Enquanto o fim da tarde se aproximava algo novo aconteceu na região. Uma frágil névoa começou a envolvê-los. Com o passar dos minutos foi se acentuando, até deixar cinza todo o mundo ao redor. Não se via o horizonte, nem céu azul, nem sol prestes a se deitar no Oeste. O cinza ao redor foi rapidamente se convertendo em grafite, e Marcus já quase não enxergava a silhueta negra de Valdomiro. Decidiram parar por aquele dia. Sentaram no chão duro e começaram a procurar uma posição para dormir. Sem sol nem estrelas, o negro imposto pelo nevoeiro parecia ainda mais penetrante que o de qualquer noite sem luar. Turvava até mesmo a visão dos pensamentos mas não era o fim. Cansado, com sono e atordoado pela névoa, Marcus estava prestes a dormir quando um terrível ruído o deixou completamente alerta. Era um som como o do mar, homogêneo como quando se coloca uma concha junto ao ouvido, mas desconcertantemente alto. Pior que isto, era crescente, como algo monstruoso a se aproximar. Incapaz de identificar um local para se abrigar daquilo, seja lá o que fosse, ficou deitado, agarrado ao chão, imaginando algum tipo de onda que viesse arrastá-lo para fora da vida. Nada disse, assim como não ouviu qualquer palavra de Valdomiro. Quando o som estava em volume inimaginável, quase ensurdecedor, percebeu movimento no ar ao redor. Algo passava zunindo no ar, pouco acima dele. Primeiro um, depois outro, depois pareciam existir milhares de objetos ou corpos passando de uma vez em velocidade elevadíssima, alguns quase a roçar-lhe as costas. Temia ser atingido ou arrastado. Não ver o que era apenas aumentava o seu terror.

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