sexta-feira, 13 de julho de 2012

#Vazio - A Fome das Sombras (29)


- Chega rapaz. Precisamos dormir.
Marcus não insistiu. Voltou para o degrau e entregou-se ao cansaço. Tanto o sono quanto a idéia de que a própria Sombra o despertaria à distância facilitaram o fim daquela vigília. Seus olhos se fecharam no deserto e se abriram no escuro quarto hospitalar; foi simples como trocar de canal em uma televisão.

O relógio da parede, iluminado pela fraca claridade que vinha do corredor pela pequena janela da porta, marcava duas horas. Seria uma longa madrugada, certamente sem qualquer debate existencial com o médico sem nome. O homem de avental se levantou com os ossos a estalar. Espiou o corredor através do retângulo, certificando-se que não havia sombra por ali. Pelo menos nenhuma que pudesse atacá-lo. Um rosto estranho apareceu em frente à porta. Marcus recuou e a pessoa, provavelmente um enfermeiro de plantão, entrou apreensiva, questionando antes mesmo que seu corpo terminasse de cruzar o limite invisível do batente.
- Está tudo bem? O senhor precisa de algo?
- Sim, sim. Tudo bem. Apenas estou sem sono.
O estranho acendeu a luz e ficou olhando para Marcus, sem ter certeza do que dizer ou fazer. Com a claridade Marcus percebeu que seu caderno estava caído no chão, ao lado da cama. Não havia sinal da caneta. Pegou o caderno e o colocou sobre o sofá no qual o Dr. Willian costumava se sentar.
- Você sabe por que estou aqui?
A pergunta parecia desconexa para o jovem enfermeiro, que não soube o que responder.
- O Dr Willian está tentando me provar que você existe.
Aquilo deixou o rapaz realmente perdido. Marcus então se lembrou que ignorava o nome do médico.
- Me desculpe. O médico que me visita durante o dia pediu que escolhesse um nome para ele, por isso o chamo de Dr. Willian.
- Tudo bem. O senhor não me deve explicações. Mas preciso pedir que se mantenha em seu leito.
- Ok! Não quero criar problemas para ninguém. Você sabe algo sobre mim ou o meu estado?
Marcus esperava que fosse normal, em um hospital, que todos os funcionários de um determinado setor soubessem tudo sobre os pacientes dele, mas o enfermeiro frustrou suas expectativas balançando a cabeça em sinal de negação. Retornou à cama, atendendo ao pedido do rapaz, o qual questionou se preferia que a luz ficasse acesa.
- Pode apagar. Já estive em lugares bem mais escuros.

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