sexta-feira, 20 de julho de 2012

#Vazio - A Fome das Sombras (30)


O restante da noite foi monótono. Exaustivo, até. Marcus se virava de um lado para o outro, mas não sentia sono e não conseguia dormir. Com frequência checava o relógio, no qual os ponteiros pareciam mover-se com lentidão insuportável.

Noites inteiras haviam se passado em seu relógio biológico quando o da parede marcou cinco e meia. “Estamos quase lá!”, foi o que pensou, mas sua atenção foi atraída para a porta, pois o contorno escuro de uma cabeça cobriu quase toda a minúscula janela. A isto se seguiu o som de batidas, às quais Marcus respondeu com um “Pode entrar” mal articulado. A porta se abriu rangendo, mas não havia ninguém do outro lado.
Dividido entre receio e curiosidade, saltou para fora da cama e foi até o corredor. Ninguém em qualquer direção. Perguntava-se se aquilo seria brincadeira de algum outro paciente ou se fazia parte do estranho tratamento do Dr. Willian. Um alto e ressoante “Olá?!” percorreu suas conexões neurais seguindo rumo à sua língua, mas ele cerrou os lábios antes que pudesse pronunciá-lo. “Estou em um hospital!”, foi o pensamento seguinte. À esquerda de sua porta o corredor seguia poucos metros, terminando em uma parede. À direita ele seguia um percurso um pouco maior, fazendo um curva à esquerda um pouco mais à diante. Marcus seguiu nesta direção. Achava curiosa a ausência de qualquer tipo de vigilância. Sobretudo, não compreendia como um paciente como ele, o qual supostamente já havia tentado até fugir do hospital, tinha a porta de seu quarto destrancada. No ponto em que o corredor fazia a curva havia um balcão, atrás do qual Marcus pôde ver duas cadeiras e um monitor. Imaginou que o espaço não deveria estar vazio. Avançou para além da curva e do balcão, descobrindo que o corredor seguia por cerca de dez metros e fazia outra curva para a esquerda. Pensou em não seguir, ao menos não aquela noite. Quando ia dar o primeiro passo rumo ao quarto, ouviu o som de uma descarga vindo de uma das portas entre o balcão e seu próprio leito. Um calafrio percorreu todo seu corpo quando alguém à sua direita gritou “Cuidado! São as Sombras!”. Ele se virou sobressaltado, mas não havia nada. Corredor, balcão, monitor, tudo havia desaparecido em trevas e Valdomiro repetia “Cuidado Rapaz! Estão aqui!”. Marcus se agachou e tentou alcançar Valdomiro, atingindo-o com as mãos. O nevoeiro negro já havia devorado toda a luz do mundo, mas ainda não havia nada voando sobre suas cabeças. Era possível perceber o som oco vindo do Leste.

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