O restante da noite foi monótono. Exaustivo, até. Marcus se virava de um
lado para o outro, mas não sentia sono e não conseguia dormir. Com frequência
checava o relógio, no qual os ponteiros pareciam mover-se com lentidão
insuportável.
Noites inteiras haviam se passado em seu relógio biológico quando
o da parede marcou cinco e meia. “Estamos quase lá!”, foi o que pensou, mas sua
atenção foi atraída para a porta, pois o contorno escuro de uma cabeça cobriu
quase toda a minúscula janela. A isto se seguiu o som de batidas, às quais
Marcus respondeu com um “Pode entrar” mal articulado. A porta se abriu
rangendo, mas não havia ninguém do outro lado.
Dividido entre receio e curiosidade, saltou para fora da cama e foi até o
corredor. Ninguém em qualquer direção. Perguntava-se se aquilo seria
brincadeira de algum outro paciente ou se fazia parte do estranho tratamento do
Dr. Willian. Um alto e ressoante “Olá?!” percorreu suas conexões neurais
seguindo rumo à sua língua, mas ele cerrou os lábios antes que pudesse
pronunciá-lo. “Estou em um hospital!”, foi o pensamento seguinte. À esquerda de
sua porta o corredor seguia poucos metros, terminando em uma parede. À direita
ele seguia um percurso um pouco maior, fazendo um curva à esquerda um pouco
mais à diante. Marcus seguiu nesta direção. Achava curiosa a ausência de
qualquer tipo de vigilância. Sobretudo, não compreendia como um paciente como
ele, o qual supostamente já havia tentado até fugir do hospital, tinha a porta
de seu quarto destrancada. No ponto em que o corredor fazia a curva havia um
balcão, atrás do qual Marcus pôde ver duas cadeiras e um monitor. Imaginou que
o espaço não deveria estar vazio. Avançou para além da curva e do balcão,
descobrindo que o corredor seguia por cerca de dez metros e fazia outra curva
para a esquerda. Pensou em não seguir, ao menos não aquela noite. Quando ia dar
o primeiro passo rumo ao quarto, ouviu o som de uma descarga vindo de uma das
portas entre o balcão e seu próprio leito. Um calafrio percorreu todo seu corpo
quando alguém à sua direita gritou “Cuidado! São as Sombras!”. Ele se virou
sobressaltado, mas não havia nada. Corredor, balcão, monitor, tudo havia
desaparecido em trevas e Valdomiro repetia “Cuidado Rapaz! Estão aqui!”. Marcus
se agachou e tentou alcançar Valdomiro, atingindo-o com as mãos. O nevoeiro
negro já havia devorado toda a luz do mundo, mas ainda não havia nada voando
sobre suas cabeças. Era possível perceber o som oco vindo do Leste.
Continua em #Vazio - A Fome das Sombras (31)
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