Movia-se com esforço! Sentia
a atração do planeta em seus ossos, em seus músculos! O eterno “para baixo” que
nos nega o sonho infantil do vôo. Aquele dia ele voaria! Engatinhava na
vertical, enquanto buscava o nível mais alto. Subia! Seguia! Movia-se com
esforço!
O peso não era apenas o de
um corpo adulto. Acrescentava-se ali toda a massa oriunda das imagens
frenéticas em sua mente! Repetia lembranças de fracassos como devoto que
flagela as próprias costas! Lembrou de cada motivo que tinha para estar ali!
Movia-se com esforço!
O eco de cada derrota
transformava-se em mantra, recitado com profunda devoção! Às vezes vacilava, o
mantra interrompido pela sombra de algum motivo para não estar ali! Retomava o
mantra e a subida! Movia-se com esforço!
Havia uma profunda nostalgia
destilada no esforço muscular de seus membros! Braços e pernas tremiam, ora
cansados, ora assustados! Quase voltou! Saudade da segurança do solo! Apego ao
conforto na vida vivida até ali! Retomou o fôlego! Estava decidido! Seguiria!
Movia-se!
Concluída a escalada,
avistou o patamar que buscava ao iniciar a subida! Frente ao limiar, o nada, a
queda, o vôo! Não havia mais peso, ainda assim, seguiu até o limiar, apaixonado
pela sua decisão! Movia-se!
Postou-se ereto frente ao
limiar, a decisão pelo salto tomada antes mesmo da subida, ainda assim, receio!
Palmas dos pés descalços tocavam o limiar! Seus dedos, soltos rumo ao infinito,
tocavam promessas! Os olhos estavam abertos, mas sua mente ignorava o que vinha
destas janelas! Concentrava-se em imagens internas, lembranças de fracassos,
mantras de derrotas, conforto na estática. Decidido a abraçar o infinito,
pronto para o clímax de sua vida, virou as costas ao infinito. Dedos no limiar.
Calcanhares ao abismo! Movia-se!
Sem qualquer sinal aparente,
ausente o “Agora! Vai!”, flexionou os joelhos, lançando-se de costas ao nada,
ao vôo, ao mundo “pós limiar”, com todas as suas promessas. O ar roçava a pele
do corpo em queda livre, traído pelo vôo, que jamais se apresentou, ainda
assim, sentia-se voando! Naquele vôo para baixo, sentiu-se preparado para
qualquer desfecho. Fundiu os fracassos aos degraus que o conduziram ao limiar!
Abraçou limiar, derrota, vitória, promessa, universo, e além. Quando o corpo
atingiu a água, a mente estava vazia, serena, realizada! Poucos passos dali,
homens de expressões vazias moviam-se. Levantavam plaquetas nas quais se podia
ler com facilidade: “9”, “9,5”, “9” *
Nota:
*Escrito ao som de “Bring Me To Life”- Evanescence,
e “Question!”, System of a Down
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