Foi como um abrir de olhos,
mas nada havia para ver. De fato, não havia o que abrir. Ainda assim, foi como
um abrir de olhos, como o despertar de um longo sono, embora não houvesse
lembrança de sonhos, muito menos das vigílias que os antecedessem. Não havia
qualquer lembrança, um fenômeno que intrigaria qualquer consciência racional,
afinal, se não havia lembrança, não haveria domínio da língua e, sem esta,
qualquer capacidade de inferir. Se não inferia, como se poderia supor alguma
razão? E, sem qualquer razão, como teria consciência? Ainda assim, na plena
ausência de língua, inferência e lembrança, percebia. Reconhecia o que lhe era
imediato; “dado” e “passado” se entrecruzavam. Percebia as adjacências na sutil
idéia de não-eu.
quinta-feira, 16 de maio de 2013
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Conto - O Velho
Muito tempo atrás, num local esquecido pelos mapas, existiu um grande sábio, cujos ensinamentos reverberavam por toda parte, transformando tudo por onde passava; “O Sábio”, como era conhecido, peregrinava pelo mundo, vivia de esmolas e retribuía com conhecimento. Em certa ocasião, já no fim da tarde, muitos habitantes de um povoado começavam a se amontoar ao redor do Sábio, em busca de alimento para seus espíritos, já tendo concluído as tarefas diárias que lhes garantiriam o alimento do corpo. Ele estava sentado no chão, sem tapete que o separasse da poeira, roupas tingidas pelo mesmo vermelho da poeira que coloria todas as construções. Pelo menos dois terços da cidade estava sentado ao seu redor aguardando ansioso alguma grande maravilha escorrer de seus lábios.
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