sexta-feira, 22 de julho de 2022

#Verborragia: Concubinas

Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Por favor Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!). A palavra de hoje é "#CONCUBINAS". Eu e as enrascadas nas quais a Verborragia me mete.

"E estas são minhas amadas Concubinas".

Disse Jaime, orgulhosamente. Olhos brilhando de um modo que não se podia garantir que não choraria em instantes.

"Amadas? Isso é possível?"

"Claro. Por que não?"

"Ora, seu Jaime! Digamos que o mundo é muito grande. Nele há infinitas flores. Por que não ama outras flores? Por que estas?"

Jaime sorriu. Paulo, que acabara de bebericar sua xícara de café morno sem muito entusiasmo, seguiu provocando.

"Ok. Deixa o mundo pra lá. Digamos que tens um jardim. Como podes amar todas as flores? Como não amas uma em particular?"

"Ora, Seu Paulo. Eu amo uma em particular. Amo cada uma em particular. Cada uma é única. Então amo-as todas assim, unicamente."

"Seu Jaime. Estás em vias de me entregar uma delas, não? Como falas que ama?"

"Eu fui feliz quando ela esteve comigo. Ficarei feliz quando ela seguir. Enquanto tiver vida para alegrar a vida de outro."

"Por que pensas que uma concubina tua me fará feliz? E se a amas, não te preocupas? Pode ser que eu mesmo não a ame. Cuide mal. Descarte."

Jaime pensou um pouco. Apontou para o outro lado da larga rua, quase uma avenida.

"Eu vi que o senhor passou lá no Maurício. Não demorou cinco minutos lá. Você não procura belezas superficiais; adornos. Procura algo real. Um 'quê' de amor. Por isso está aqui e se demorou até o café esfriar. Quer mais?"

"Não é necessário."

"Bem. Fico feliz que já escolheu uma."

"Eu não disse nada."

"Depois de tanto tempo nesse ramo, não precisa falar. Os olhos falam. Ouso dizer que ela parece feliz com sua escolha."

"Isso é possível? Elas não tem sentimentos. São belezas funcionais e nada mais."

Jaime nem respondeu; Apontou o estabelecimento do Maurício com o queixo; Paulo reconheceu a derrota em silêncio.

"Seu Jaime. E esse ramo, seu Jaime? Não é comum, não é? Sou condutor de bonde, com a graça do bom Deus. Vejo homens indo e vindo dos escritórios e dos canteiros de obras; não vejo muitos homens desse seu ramo peculiar. Também não é coisa que se queira ser quando crescer. Quando a gente é criança não conhece os jogos de amor que fazem chegar aqui. Como você chegou aqui, seu Jaime?"

"Como você. Em busca de amor."

"E encontrou?"

"É claro. Foi Amanda que me colocou nessa via. É por Amanda que permaneço aqui."

"Gostaria de conhecê-la"

"Lamento. Minha amada não vive mais."

"Meus sentimentos."

"Já faz tempo."

"Com tantas mulheres circulando por aqui, o senhor nunca mais se encantou por outra?"

"Minha amada não vive mais. Não há outra como ela nesse mundo."

Paulo ficou calado. Um acordo de silêncio nascia entre os dois cavalheiros, enquanto mulheres e homens circulavam ao redor. Pessoas em busca de beleza e adornos.

Paulo partiu com o que veio buscar. Nunca mais voltou. Jaime adivinhou que encontrou seu próprio amor naquela tarde.

Na faixada do estabelecimento de grandes proporções e modesto acabamento, sempre repleto de cor e melancolia, o letreiro imenso e desbotado anunciava;

"Amanda Floricultura

As mais belas tulipas desde 1952"

Nota:
con·cu·bi·na
sf
(…)
3 (BOT) Variedade de tulipa.
Fonte: Michaelis

Nenhum comentário:

Postar um comentário