sexta-feira, 15 de junho de 2012

#Vazio - A Fome das Sombras (25)


Chegaram ao parapeito no mesmo instante que o vento, invisível aos dois em decorrência da neblina, começava a se formar no Leste. Nas adjacências o nevoeiro já não era tão denso, permitindo-lhes enxergar uma distância considerável. Percebendo não haver ameaça no primeiro degrau, abaixaram-se sobre ele examinando os patamares mais baixos.
Nenhum sinal da sombra. Tentaram demonstrar algum alívio, mas era difícil determinar qual dos dois estava mais tenso. Deitaram-se no abrigo daquele degrau. Olhar fixo na direção da beirada oeste. Novamente veio o Vento, carregando para o Oeste todo o nevoeiro. Tão logo se encerrou o vendaval, deram uma última espiada nos degraus inferiores e retornaram à estrada. Sob o límpido céu azul sentiam-se mais protegidos. Valdomiro foi até a água e capturou dois peixes pequenos. Comeram em silêncio e ofereceram os restos ao oceano, seguindo o exemplo do Peregrino. Retomaram sua caminhada com os calcanhares dentro d’água. Olhavam o Norte fixamente, mas não havia qualquer sinal de fumaça, apenas a inatingível perturbação na água.
- Acha que aquilo vai voltar?
- Nunca vi uma coisa com tanta raiva, rapaz! Aquilo vai tentar nos pegar de novo!
- E o que vamos fazer?
- Não sei! Precisamos de um balde!
- Um balde?
- Claro! Você não viu o que a água fez com aquela coisa? Com um balde lhe daríamos um belo de um banho!
- Faz sentido! Respondeu Marcus, enquanto ensaiava um sorriso sem graça. Em seguida emendou.
- O que faremos à noite?
- Se não tiver nevoeiro, podemos dormir na água. Se tiver, não sei!
- Tinha medo que dissesse isso!
- Tinha medo que perguntasse isso! Valdomiro riu de verdade.
A longa caminhada da tarde aconteceu em silêncio e sem qualquer acontecimento relevante. Marcus se perguntava se a Sombra seria capaz de atacá-los de surpresa ou se poderiam perceber sua aproximação, aquele ódio indescritível que parecia emanar dela. Seu corpo caminhava de forma automática, sua mente totalmente ausente daquele lugar. Estava atrás, no tempo e no espaço, revisando o surgimento das aranhas e sua consolidação na criatura que tentou atacá-los. Tentava entender por que ou como a água a feria? Se havia vida no sangue, por que surgiram novas criaturas a partir do mesmo, e não simplesmente a recuperação da criatura original? Por que, ao contrário do que sugeriam os sons no nevoeiro noturno, não voava? Um mar de perguntas; Nenhuma resposta. Concluiu que em um mundo absurdo como aquele, a ausência de respostas era uma coisa natural.

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