sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Conto - Menos!


Tarde ensolarada coroava os sorridentes semblantes daqueles que ousaram enfrentar o frio daquele dia. Mesmo na total ausência de nuvens o magnífico dourado do Sol poente era insuficiente para vencer uma afirmação simples, “É Inverno!”.

“os sorridentes semblantes…” não exprimia a situação de todos os semblantes. Em um banco muito velho, frente ao lago muito artificial, uma jovem chamada Menos não sorria. Menos não era seu nome de batismo, tampouco apelido dado por amigos maldosos. “Menos” era o nome ideal, pensava, para o que ela sentia naquela tarde. Nem sempre fora assim. Ouve tempo em que se sentia “Amanda”, jovem, feliz e sonhadora. Um tempo no qual famílias eram completas e pessoas amadas eram imortais. Tão distante estava a jovem e inocente Amanda. Tão concreta era a imediata Menos.
O mundo todo parecia, em seu turvo ponto de vista, repleto de “menos”. Menos calor no Sol, menos reflexos no lago, menos esperança nas crianças brincando atrás de si, menos motivo na vida. Mergulhada em suas reflexões subtrativas cogitava a subtração suprema no mergulho. “Haveria reflexos no avesso do lago?”, “Haveria alegria no avesso da vida?”. Não importava. Não hesitava em mergulhar, apenas reafirmava seu poder de decisão subtraindo à existência externa a escolha do quando. Naquele mundo frente ao qual era tão impotente, a potência do “quando” seria agarrada. “Não será antes, nem depois. Será quando eu decidir!”
Pessoas iam pela via, poucas viam Menos, muitas viam nada. Nas que viam, ora indiferença, ora trivialidades. Ignoravam a iminência da subtração final; Um Carlos passou, tentando adivinhar os contorno do corpo através das baixas horizontais do banco; só viu roupas grossas e pesadas; menos um pensamento libidinoso para adiar suas preocupações com tarefas cotidianas. Uma outra Amanda, ignorando o quanto o gosto materno para nomes poderia aproximá-la da tristonha jovem do banco, planejava em seu intimo as palavras adequadas para preenche-la do “mais” do qual ela mesma julgava-se plena; Por timidez seguiu em frente; mais tarde lamentaria menos uma alma na casa do mais.
Quando menos se esperava, Menos levantou. Carlos e Amanda estavam longe. Quando menos se esperava, Menos mergulhou. Tarde ensolarada coroava os sorridentes semblantes daqueles que ousaram enfrentar o frio daquele dia, menos um.

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