sexta-feira, 3 de agosto de 2012

#Vazio - A Fome das Sombras (31)


- O que vamos fazer?
- Não há nada a fazer Rapaz. Só esperar.

Ficaram lado a lado, empoleirados naquele degrau enquanto a multidão de sombras sobrevoava veloz a muralha e seguia rumo ao Oeste. Marcus percebeu que a passagem daquelas sombras, apesar de aterrorizante, não apresentava aquele ódio quase físico que escorria da sombra que os perseguia. Ficou tranquilo ao imaginar que nem ela viria aquela noite. “Ela deve evitar as demais. Tornou-se algo a ser arrastado, como nós!” era o que ele pensava, mas no instante seguinte qualquer centelha de tranquilidade foi varrida do mundo com força maior que a do Vento do meio dia. Marcus estava com as costas junto à parede rochosa quando começou a sentir um tênue desconforto, o qual foi progressivamente aumentando, dando lugar ao temor. Algo que não podia descrever, mas cuja sensação da presença já lhe era bem familiar, se aproximava vagarosamente, vindo de algum lugar no abismo sob seus pés. Valdomiro deve ter percebido a mesma coisa, pois agarrou o braço de Marcus, puxando-o rumo ao Norte. Engatinharam com dificuldade, o mais rápida e silenciosamente que puderam. A sensação não diminuiu, evidenciando que a Sombra ainda os seguia, mas também não aumentou, dando a esperança que, por algum motivo desconhecido, se movesse com igual lentidão. O degrau no qual estavam era bastante irregular. Às vezes tornava-se mais largo, facilitando o avanço, às vezes tornava-se demasiadamente estreito, deixando-os prestes a cair. A perseguição seguia e os dois fugitivos sentiam seu desespero crescer com o aumento gradual da sensação de ódio. A onda de sombras sobre suas cabeças não cessava, eliminando suas esperanças de fugir para a água. A Sombra atrás deles, mesmo avançando lentamente, ainda era um pouco mais rápida que os dois.
          Em um dado momento não era mais possível identificar o que era mais intenso: a escuridão diante dos olhos ou a onda maciça de ódio projetada pela criatura que os perseguia, cada vez mais próxima. O mundo pareceu ter acabado no momento que Marcus sentiu algo agarrando-lhe o calcanhar. O terror foi maior que qualquer vestígio de racionalidade, levando-o a emitir um grito de terror. Com um dos pés ele golpeou a mão invisível, libertando-se por alguns instantes. Tentou avançar mais rapidamente, mas foi novamente agarrado e puxado rumo ao abismo. A coisa era demasiadamente forte, mas não pesada, assim ficou pendurada em uma das pernas de Marcus enquanto este tentava agarrar-se como podia no patamar em que estava, usando os braços e a perna livre. Valdomiro se virou com dificuldade e tentou ajudar o amigo. Era difícil puxá-lo para cima, já que não podia ele mesmo ficar em pé. Algo passou muito perto de sua nuca.
          Continua em #Vazio - A Fome das Sombras (32) "Genium Malignum"

Nenhum comentário:

Postar um comentário