“E agora?” O conflito entre
o Ímpeto Criativo e as Trevas do Compromisso era gritante. Toda a inspiração
definhou frente ao súbito acúmulo de espessas nuvens de temporal. No lugar de
trovões ecoava o “Preciso escrever algo hoje!”. Nada mais frustrante que o “Preciso”.
Por que não “Quero”? Por que não “Desejo”? Até mesmo o “preciso” valeria, se
fosse “necessidade”, não “dever”.
“É agora!” Não que houvesse
quem cobrasse, quem definisse prazos. O prazo foi dado por mim, e não poderia
me trair. Um escritor que não existe - William Forrester - ensinou, certa vez,
um escritor que não é - Eu - “Apenas comece a escrever!”. Comecei. “É agora?”.
Como definir se o produto de uma ação sem ímpeto é digno de manutenção? “Del”
ou “Publicar”? Que diferença faria? A escrita é para o leitor ou para o
escritor? Parece que nasce da necessidade de materializar o imaterial.
Sentimento no papel. Cor para o espírito.
É um fenômeno interessante: No
espírito está o puro – não leia “puro” como “santo”, mas preferencialmente “pleno”
e “inalterado”- mas, de alguma forma, igualmente obscuro. “Contradição” Tudo na
vida humana é mediato, exceto o interior do espírito. Como, então, justo isto
poderia ser obscuro? Mas era. Mas é. Pôr o imediato num meio, apesar da obvia
depreciação ocorrida com o conteúdo durante o ato, ajuda a esclarecê-lo. Pus o
espírito na folha virtual e fitando aquela cópia absurdamente infiel,
compreendi-o melhor.
“É agora?” Se não for, não
virá a ser.
“É agora!” Comecei, segui,
mais assisti que produzi.
“E agora?” Agora releio,
lapido, amplio, aprendo. No obscuro trazido à luz pude apreender aquilo de mim
que transcendia as Trevas do Compromisso. Dissipava as nuvens e emudecia o “preciso…”.
Superava até mesmo o Ímpeto Criativo. Sinto-me, AGORA, livre de dever e de
impulso, livre para o novo, este velho há tanto tempo perdido nas infinitas
distâncias do “dentro”. Acho que é agora; pretendo, apenas, começar a escrever.
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