#Verborragia: Intuição

Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Por favor Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!).  A palavra de hoje é "Intuição".

"Você já ouviu falar em 'intuição'?"

"Balela!"

Silêncio. Se entreolharam tentando se sondar mutuamente. Uma partida espiritual de xadrez.

"Balela?"

"As pessoas desejam ou temem coisas e ficam usando essa palavra para justificar estas coisas."

"BALELA?"

"É. Desculpe. É o que eu penso. Preciso ser sincera."

"E se foi por intuição que eu vim aqui falar com você? É balela ainda? Devo ir embora?"

"Eu prefiro que não vá. Mas nada muda: Medo ou desejo e você veio."

Silêncio de novo.

Claudia estava no balcão namorando uma cerveja. Bebia devagar. Parecia apreciar o tempo mais que o conteúdo do copo.

Camila se aproximou com seu próprio copo e tentou puxar assunto, mas o interesse começava a se converter em frustração.

Camila intuiu uma coisa absurda, impossível, improvável, mas decidiu acreditar na intuição. Mergulhou!

"Eu não acredito em coincidência!"

"QUE COINCIDÊNCIA! Eu também não!"

As duas riram copiosamente. Nem parecia que cada qual estava apenas na metade de seu primeiro copo.

A conexão veio do riso.

"MEU DEUS DO CÉU!" Protestou Claudia. "Como você pode fazer isso comigo?"

"Isso o que?" Camila perplexa, envergonhada e quase assustada.

"CARA! Eu adorava este programa!"

Tratava-se de uma piada muito antiga. Claudia fizera o "All In" do século.

"Eu intuí isto! senhorita?"

"Meu nome é Camila. Senta aí! Cara! Eu podia muito bem nunca ter visto isso e ter te chamado de doida."

"Muito prazer, Camila. Eu sou a Claudia, sua vidente, amiga, futuro grande amor da sua vida e jogadora de poker nas horas vagas."

"Você é ousada, hein!"

Riram mais um pouco.

"Por que 'poker'?"

"Sabe algo? Já jogou?"

"Uma vez só, muito tempo atrás, com amigos. Prefiro xadrez. Me incomoda depender da sorte. Os tais jogos de azar."

"Não senhora, Dona Claudia. Nada de sorte ou azar aqui. Bem! Talvez um pouco. Mas trata-se de 75% estratégia, 24% intuição e 3% sorte e 17% dificuldades com matemática e ciências exatas em geral."

Mais risadas.

"Estou ouvindo!"

"Bem. No poker você, racionalmente e intuitivamente calcula probabilidades, analisa e administra riscos. Não são chutes; São decisões. Você perde aqui, ganha ali; A mágica é administrar bem o suficiente para ganhar mais do que perder. O que importa é o saldo final. No meio disso tudo vem o 'All in'. Consegue intuir o que é?"

"Rá! Sem intuições aqui, cara. E você está em xeque!"

"Com cada uma jogando um jogo diferente esse final vai ser, no mínimo, uma bagunça."

Mais risadas.

"'All in' é quando você, por certeza, intuição, ou só blefe mesmo, coloca TODAS as suas fichas em uma única aposta. Ali ou você leva tudo ou você perde tudo."

"Parece muito arriscado."

"Falou a moça que sacrificou a rainha para ver se um peão chegava mais longe."

Acho que você já percebeu que há risadas o tempo todo, né?

"Então eu sou uma aposta para você?"

"Tudo na vida são apostas. A diferença é que há quem entenda o jogo e quem não entenda. E quem entenda a intuição e quem não a entenda. Não é misticismo. É simples percepção; Observação. Tudo no mundo fala com a gente o tempo todo."

"Mas eu não poderia ter dado nenhum sinal específico sobre um programa de televisão de 15 ou 20 anos atrás."

"PARE COM ISSO! Não entregue a nossa idade."

É. É. Mais risadas.

"Esse jogo estava quase perdido. Meu "all in" foi blefe mais intuição, mais -principalmente- esperança."

"Por que esperança?"

Brilho nos olhos e nenhuma risada.

"Intuí que perderia algo importante se saísse daqui sem saber nem o seu nome."

"Estou intuindo que isso é um xeque mate pra você."

"Para ser sincera, eu queria mesmo um empate."

As risadas viraram luz e sorriso. Intuição, ceticismo, esperança, nome, cerveja, tudo embaralhado numa partida confusa, assustadora e irresistível.

Observadores anônimos intuiriam que a coisa toda terminaria com um café da manhã. Walter, barman, olhou tudo aquilo nostalgicamente, com um sentimento confuso de "abstinência" na mente.

"Isso foi intuição mesmo? Ou uma série de chutes baseados em pura emoção e, por aleatoriedade, calhou de dar certo? Me diga, sabichona: Intuição ou emoção?"

"Decida!"