sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Verborragia: Sogra

 Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!   https://outrosdialogos.blogspot.com/p/verborragia.html ).  A palavra de hoje é #Sogra.

Ansiedade imperava no dia que Miguel seria levado por Camila para conhecer sua mãe.

Namoravam há cinco meses, sem contar outros três de encontros casuais, e agora a moça se sentia pronta para levar o rapaz em casa.

A menina cresceu sem pai, super protegida pela mãe, a qual não perdia oportunidades de reforçar como os homens, todos eles, são canalhas.

1% deste cenário foi retratado ao rapaz e já bastou para deixá-lo alarmado; Acreditava que seria rejeitado.

Marcou-se um almoço para domingo, para o qual a mãe queixou-se "E eu que vou ter que cozinhar? Não tô aqui pra sustentar marmanjo não!"

Isso Camila omitiu, para não deixar Miguel ainda mais apreensivo. Explicou para a mãe que tratava-se de boa pessoa, preocupado em impressioná-la positivamente, e que não custava nada ela também impressionar, com sua magnifica lasanha.

Com o ego tocado pela referência ao prato, um dos mais elogiados nos encontros familiares, a mãe cedeu.

Chegado o dia, Miguel ciente do prato, pesquisou e adquiriu um vinho que combinaria. Não queria comprar a amizade; apenas imaginou que seria a coisa sensata a fazer.

Mãe e filha moravam em um apartamento no outro lado da cidade; o rapaz saiu uma hora antes do tempo calculado de percurso, para não ter imprevisto.

Imprevistos não faltaram, comum que eram aos transportes públicos daquela cidade, e o rapaz se atrasou trinta minutos em sua antecedência, impressionando Ana, mãe de Camila, quando o interfone soou meia hora antes do combinado.

"Seu pai sempre se atrasava!"

"Não estou namorando meu pai, Dona Ana. E fui muito bem criada. A senhora deve saber."

Autorizada a entrada demorou três minutos para se ouvir alguém bater na porta; não havia companhia.

Camila não correu, tentando não parecer ansiosa, mas não teve autorização de abrir a porta.

"Eu o recebo."

Algo pareceu um raio no coração de Camila. Não foi uma fisgada, uma dor, um choque. Mas tinha todo o movimento, textura, sonoridade de algo sendo estilhaçado em seu coração. Não me interpreta mal. A menina sentiu como se uma crosta ao redor do seu coração se quebrasse e ele batesse pela primeira vez. O que ouviu não soou com se fosse para aquele instante; aquele ato; parecia ser uma aceitação; algo para a vida.

Aberta a porta tudo o que havia em Miguel era espanto. Esperava ver primeiro Camila e, em seguida, ouvir "Esta é minha mãe!". Não estava, em absoluto, preparado para ver Ana logo de cara. isso causou um atraso em sua reação. A mulher não pareceu impaciente.

"Sen…" Novo atraso, receando que sua expressão fosse interpretada com denotação de "velha" e iniciasse um confronto. No fim a educação venceu o medo.

"Senhora Ana. Boa tarde. Eu sou Miguel.  Trouxe isso pra senhora!"

Um sorriso quase invisível se formou em Ana, perfeitamente "Mona Lisa" naquele momento. O atraso, "Delay", caso você não se incomode com anglicismo (não é meu caso; mas Ana pensa em inglês; desculpe).

"Obri…" e ela forçou o "Delay". CARA! Ela forçou o atraso.

"Obrigado Miguel. Me chame de Ana. Por favor. Ou, no máximo, Dona Ana, como faz a 'Mila' quando quer me dar uma bronca."

O rapaz não foi capaz de conter o sorriso, sinal evidente de uma quebra de tensão equivalente à separação de placas tectônicas; "Quebra de gelo", nos termos que vocês empregariam.

"Não tenho motivos para te dar uma bronca, Ana", e Miguel reunião em um momento toda a ousadia que não teve por uma vida inteira.

"Escolha suas palavras com cuidado, rapaz!" Nova pausa. A mulher, leitora ávida, tratava a própria vida como um romance. Forçou um novo atraso, só para constranger o jovem. Depois emitiu o veredito para o garoto, perfeitamente ciente que a filha ouvia atenta; aflita; grata.

"Uma palavra em falso e terás que me chamar de 'Sogra' !"

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