Marcus não ousou responder. Estava chocado. Esteve frente à própria morte
e não sabia como reagir a tudo aquilo. “Poderia mesmo uma postura mental
interferir no modo como meu corpo reage ao mundo?” era o que se perguntava
intimamente. Valdomiro parecia compreender a confusão do amigo, assim, apenas
se virou e seguiu. Marcus o acompanhou. Depois de alguns minutos não foi capaz
de conter suas dúvidas:
- “Determinação”! O que você quer dizer?
- Eu não conheci meu avô! Mas meu pai sempre falava dele. O Velho
Valdomiro! Foi dele que veio o meu nome! O Velho Valdomiro era um homem
determinado! Dizia que nada parava aquele velho! Acordava antes de todo mundo;
dormia depois; trabalhava mais. Chegou aos 100 anos com muito mais saúde com
muito jovem que se via por lá. Só uma coisa venceu o Velho Valdomiro. Quando
minha avó morreu, não me lembro o nome dela, o Velho Valdomiro caiu doente.
Morreu em uma semana. Não tinha mais nada que o prendia neste mundo.
- E o que te prender aqui?
- Meus filhos!
- Filhos?
- É rapaz! Tenho duas crianças para cuidar! Para guardar! Uma delas quase
saiu voando agora pouco!
Marcus riu. Fazia tempo que ninguém cuidava de sua vida a não ser ele
mesmo.
- Mas não sou eu o guardião do guardião?
Agora foi Valdomiro quem riu. Seguiram novamente em silêncio, com a mente
longe e o coração tranquilo. Algumas horas depois, já com o anoitecer se
aproximando, a tranquilidade deu lugar à alguma tensão, pois o nevoeiro que se
formava no Leste era nítido até ao olhar desatento de Marcus. Apertaram o
passo, pois estavam numa área na qual não havia apoio no parapeito oeste da
Muralha. Queriam encontrar logo um abrigo, pois se houvesse alguma sombra
naquela noite não pretendiam deitar-se novamente no chão. O nevoeiro os atingiu
guando o Sol já começava a tocar o limite Oeste do mundo. Trevas à direita.
Fogo e ouro à esquerda. Apertaram ainda mais o passo. Já não conseguiam
enxergar muito além de alguns poucos metros. Era nítido o desespero.
Marcus já tinha dificuldade para identificar a presença de Valdomiro na
escuridão que se avolumava.
- Precisamos fazer alguma coisa!
Continua em #Vazio - A Fome das Sombras (15)
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