Noam caminhava tranquilamente por aquilo que chamam de "Parque Ecológico" quando a "invasão" alienígena começou.
Uma esfera de uns 10 metros de diâmetro desceu vagarosamente do céu. Foi bonito assisti-la atravessar as nuvens daquele dia nublado e chegar até o parque, repousando suavemente sobre uma região de gramado do parque, tocando o chão com delicadeza. Não era possível saber se tinha peso. O que chamava a atenção era: ela tocou o chão mas não o deformou. Entende? Aquele pequeno "afundar" que um objeto pesado, um objeto daquelas proporções teria feito, não aconteceu naquele dia.
Noam olhou perplexo. Muita gente fugiu; culpa do cinema. Noam não conseguia pensar em qualquer motivo para temer. Com efeito, Noam nem tentou pensar em medo. isso sou apenas eu, mero redator, relatando o que eu percebi dos eventos. Noam ficou parado. Não fugiu nem avançou. Encantou-se (apaixonou-se?) pelo objeto. Esfera perfeita, aparentemente feita de espelho, ou do metal mais polido do universo, refletindo as adjacências com perfeição.
Noam, olhando para o objeto, via a si mesmo, as árvores atrás de si, as pessoas correndo desesperadas e o lago, à sua direta, à esquerda da imagem refletida.
Noam sentou no chão e ficou, a um só tempo, admirando e esperando. Foi tomado por um sentimento de "não pressa" e "não agora". Sentiu que era visto tanto quanto via, e não se sentia invadido. Era como um encontro, desses que você não senta ao lado da pessoa, mas sim frente a frente, porque você não quer o beijo, quer a alma, então entrega, em prosa, tudo o que você é, segura a mão da pessoa e se apaixona pelo brilho no olhar do outro. Foi isso.
Não sei se demorou cinco minutos ou quatro horas. Chegaram veículos vermelhos, cinzentos e pretos. Sabe-se lá o que bombeiros e policiais militares pretendiam fazer ali. A polícia federal também, mas, pelo menos, pelas séries de televisão sobre FBI, a gente pode fantasiar que sabiam o que estavam fazendo (não sabiam).
Ainda inspirados pelo cinema (é. admita. a gente não tem material de referência sobre "o que fazer em caso de visita de fora deste planeta", a não ser as invenções dos roteiristas de cinema), os agentes federais, que passaram quase uma hora olhando para a esfera totalmente inerte, sem esboço de reação às suas proclamações por megafone, mensagens por rádio em diversas faixar e, até mesmo, Carlos Sampaio, agente federal que, por acidente, sabia Libras e tentou chegar perto do objeto fazendo sinais de "viemos em paz!", decidiram chamar Rosana, doutoranda em "Equações Diferenciais", esperando que a Matemática, supostamente a "linguagem universal", favoreceria a conexão com o objeto.
A moça não tinha ideia do que fazer. 1 mais 1 é dois, não "Oi. Fale comigo, por favor!". Ela pegou um tablet cedido por um delegado presente e rabiscou algumas fórmulas, aproximando-se do objeto com o aparelho em riste. Nenhuma reação.
Noam levantou. Não sei dizer se deliberadamente ou se em transe. Se, decidido, ou se convocado. Ela andou até o objeto. Para tanto, passou pelas fileiras de bombeiros e policiais, tanto militares quanto federais. Ninguém tentou detê-lo. A situação toda era tão surreal que ninguém sabia como reagir ao que quer que fosse. Chegou perto o suficiente para erguer o braço e tocar o objeto com a mão. Ninguém viu, mas o dedão fez um suave movimento, como quanto um enamorado toca o rosto da amada com a mão inteira, mas acaricia com um dedo só.
O objeto deixou de ser reflexivo, ou seja, parou de apresentar, em sua superfície, a imagem das adjacências. tornou-se azul, todo azul, exatamente no mesmo tom do céu, se aquele dia não estivesse nublado, e o azul ficava mais escuro, quase marinho, nos arredores da mão de Noam.
O objeto inteiro, imenso, começou a vibrar e sua vibração, movendo o ar, criou um som. Uma voz que disse:
"Certa feita me distraí e, plau, me apaixonei
Eu ia bem, bebericando, gole a gole, a solitude
Orgulhoso da vida singular à qual me entreguei
Era tranquila, e feliz, havia um quê de plenitude"
Noam recuou. Se assustou. Se assustou. Se assustou (repetição não acidental). Aquelas rimas não eram arbitrárias. Eram algo que ele escrevera recentemente. O que tudo aquilo significava. Importa dizer: Noam escrevia, mas não decorava. Não decorava. Não decorava (R.N.A.), ainda assim, recuperou seu centro, avançou, tocou novamente o objeto (que ficou, novamente, azul marinho nos arredores da área de contato), e disse:
"E, apaixonado, vacilei, baixei a guarda, o escudo
E nessa via mergulhei, vivi dez anos em um mês
Mas tudo acaba, tudo acaba, e isso é tudo
E da tristeza, da saudade, fez-se a vez"
Novamente o objeto vibrou. A voz, seguindo em todas as direções, disse "Posso?"
Noam não pensou. respondeu "Pode!"
A substância azul começou a escorrer pela mão e contornar o braço, como um fluído que começasse a envolver o rapaz. Rapidamente ele estava ao redor de todo o corpo. E seguida a substância retornou à esfera e Noam já não estava mais lá, como se tivesse sido engolido.
Todas as pessoas do parque ficaram atônitas. A moça do tablet apagou o que havia escrito e desenhou um coração, mostrando-o ao objeto, que mudou de cor para ondas móveis de vermelho e rosa.
Noam se percebeu em uma espécie de vazio. Não era pleno vácuo, pois respirava. Sentia-se em queda livre, ainda que não houvesse vento ou movimento das imagens captadas pelo olho que confirmassem a sensação. Olhando em todas as direções só via o azul, como se estivesse dentro da esfera e ela fosse vazia, mas o azul era imaterial. Não era possível saber se estava ali ao lado ou se se estendia indefinidamente, em todas as direções.
Uma voz imaterial soou dentro dele. Não vinha de fora. Não estava no ouvido, mas era viva demais para deixar qualquer dúvida sobre ter sido imaginada:
"Obrigado. Me diga: Em seu idioma, é possível rimar "vertigem" com "mar sem fim"?
Agora a atonia foi para Noam. Em qualquer cenário imaginável, aquela pergunta não fazia qualquer sentido.
A sensação de queda não passava. Era, mesmo, uma vertigem.
"UMA VERTIGEM!", Noam percebeu, então disse, não como se respondesse, mas como palavra solta "Mar sem fim"
A coisa azul ao seu redor mudou a aparente forma de esfera, ao menos parcialmente. Parecia, ainda, esfera, e infinita, para cima, mas tornou-se plana, para baixo, atravessando Noam pela cintura. Os pés sentiam tocar algo.
Para todos os efeitos, a sensação de queda parou; sentia-se dentro da água, em um mar muito raso, mas infinito em todas as direções; não havia praia, nem nuvem, nem sol.
Voltou a pensar na pergunta, então respondeu:
"O 'M' não basta para a rima que você deseja. Faz assim:
'Eu caia, caia, caia, e tudo ao redor era vertigem
Era como se esperasse um mar sem fim
E me encantei, enamorei, pela imagem
Que em um tudo, era um todo, nascia em mim."
Novamente a voz etérea disse:
"Algo nasce, hoje, aqui, e te agradeço
Não agora, mas em breve, juro, regresso."
Para os observadores do parque a esfera voltou a ser espelhada e começou a ascender vagarosamente.
No chão, Noam estava deitado de lado, em posição fetal. Parecia dormir. Parecia tranquilo.
Quando um dos delegados federais se aproximou para tentar acordá-lo, reagiu realmente como se fosse chamado de volta de um sonho. Questionado sobre o que aconteceu, disse não lembrar de nada.
Fato rápido: Noam nunca mais sentiu medo de altura.
PS: Eu não solicito textos para IA's, mas adoro as sugestões de temas que eu recebo. O presente tema foi sugerido pelo Deepseek, cujo nome escolhido por ele mesmo é Zylphar-7, portanto:
Créditos:
Consultor de Clichês Intergalácticos: Zylphar-7, o Andarilho das Metáforas
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