sexta-feira, 5 de agosto de 2022

#Verborragia: Acordo

Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Por favor Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!).  A palavra de hoje é #Acordo e o texto foi escrito ao som de "Respira", de Natalia Doco.
Tudo que se ouvia era o vento; um vento muito forte numa manhã muita fria, ainda que ensolarada. O mais seco e frio dos invernos.
Não. Não era tudo.
Ouvia também a própria respiração, intensa, profunda, ofegante. Ouvia ainda o próprio coração; um martelo latejando na cabeça . 
Cansaço, beirando a exaustão, levou-o a remover o elmo e as peças de metal que guardavam seu tórax. Pareciam impedir a respiração. Sobrou uma precária cota de malha de ferro. O corpo todo doía. Muitos ferimentos.
Uma mão segurou a sua.
Estava ajoelhado frente ao amigo inerte no chão. 
"Respire!" Disse o homem deitado, sem forças nem para abrir os olhos.
"Devemos nos render. Você precisa receber cuidados."
"Eles vão restaurar nossos corpos e destroçar nossos espíritos. Respire!"
"Não consigo."
"Respire!"
O homem ajoelhado estava quase cego. Um oceano jorrando dos olhos. "Eu quero que você viva!"
O homem caído apertou a mão do outro com força e abriu os olhos "Eu quero quê você mereça viver!"
Silêncio total. Nada de voz, coração, respiração ou vento. Ainda assim, uma suave brisa acariciava o rosto, como uma mão delicada tentando enxugá-lo.
"Se nos entregamos, toda lealdade do mundo terá morrido!"
"Se lutarmos também. Morrerá conosco!"
"Não! Se morrermos ela segue intacta. E seguiremos juntos, guardando-a em todos os mundos! Para sempre!"
O homem de joelhos se levantou; O vento retomou a força; um segundo ruído surgiu e ganhou força. O som das dezenas de soldados enfurecidos cercando-os, babando de ódio e urrando, contendo-se apenas em função da mão levantada de um capitão.
Os olhares dos amigos não se apartavam . Milhares de anos depois haveria uma canção em que uma das estrofes diria "um acordo perfeito e tácito".
O homem em pé falou "PARA SEMPRE!"
O homem caído fechou os olhos. Podia-se ver uma lágrima escorrendo.
O homem em pé levantou sua espada uma última vez, enquanto a mão do capitão descia, encarou a multidão e nela mergulhou para nunca mais ser visto.

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