Quem inventou a mulher não sabia o que estava fazendo
Não sei se mexeu com colher o preparo que estava vendo
Talvez tenha errado a mão, ao adicionar à mistura
Uma parte de emoção, e umas três, ou mais, de ternura
Quem inventou a mulher não sabia o que estava fazendo
Não sei se mexeu com colher o preparo que estava vendo
Talvez tenha errado a mão, ao adicionar à mistura
Uma parte de emoção, e umas três, ou mais, de ternura
Hoje acordei e não quis ligar a música; pareceu errado; por um instante senti que havia um quê de "menos" naquela adição.
Passei a escutar o silêncio da casa, as batidelas dos objetos que eu movia, os ruídos externos invadindo minha cozinha, o alvoroço dos pássaros.
Comovido pela memória de um filme que gosto, passei a "ouvir" o toque morno dos primeiros raios solares, o brilho incendiando o mundo, o abraço da brisa, o baile das folhas secas.
Por um instante fui silêncio, então, por aquele breve instante, eu ouvia tudo.
Pé na terra, mãos para cima, o vento que sopra o rosto
Pensei que já entendia, o início, o meio e o resto
Pena e ave, voou pra longe, sentindo pena daquele fim
Pela via em que eu fui, eu me perdia até de mim
Certa feita me distraí e, plau, me apaixonei
Eu ia bem, bebericando, gole a gole, a solitude
Orgulhoso da vida singular à qual me entreguei
Era tranquila, e feliz, havia um quê de plenitude
Do alto da sacada, vejo as luzes e lembro de ti.
No sol, no som e na brisa, penso em tudo o que eu já vivi
Vivemos, e foi verdadeiro, aventuras no mês de dezembro
Com risadas, encontros, passeios, e de tudo o quanto me lembro
E então tu me pede que saia, e eu vou, relutante, eu sigo
Desta pausa confusa fui causa, eu falhei, eu não fui teu abrigo
E agora partiu tua risada, há silêncio em volta, sem fim
Sem encontros, encontro morada, nesse canto escuro de mim
E os passeios, outrora vibrantes, eu mantenho, ainda que só
Pois a vida é curta, e eu vivo, e adio o retorno ao pó
A garupa está triste, vazia; um espaço a mais, uma ausência
Mas sou grato por tudo de antes, tu foi minha mais bela querência
E agora te digo, de fato: É tão doce assistir teu sorriso
E agora que somos passado, aceitar e entender é preciso
Mas me alegra saber que há presente, na presença que você manteve
E então não se rompe de todo, a amizade que um dia se teve
Um poeta já disse "meu bem, o mundo (...) está na (...) estrada (...) em frente"
"O trem se vai na noite sem estrelas", respondeu outro alguém, de repente
"Por dezembros atravesso, oceanos e desertos"
E me lanço em caminho estranho, mas é belo, sei que isso é certo.
Em um mundo de vidas tão distantes
Rara tornou-se qualquer presença
Ainda assim, há sorrisos e instantes
Seja ou não uma data de nascença