O homem o deixou sozinho no quarto por alguns minutos. Deitado ali, imóvel,
só e repleto de dúvidas, pareceram horas. Os pensamentos lhe vinham em ondas volumosas,
caóticas, dando a impressão de que não conseguia ler sua própria mente. Fechou
os olhos, procurando recordar do deserto, mas este parecia cada vez mais
distante, como um sonho sendo esquecido. Havia um relógio na parede imediatamente
aos pés da cama. Não podia vê-lo, mas o movimento constante do ponteiro dos
segundos, quase inaudível mesmo para quem se esforçasse para ouvi-lo, parecia a
firme batida de tambor que ocorria nos antigos navios a remo.
O esforço realizado a pouco, para olhar o quarto o havia deixado exausto, por isso não arriscava olhar o relógio, embora fosse imperativo saber as horas (estava faminto). Respirou fundo e vagarosamente por três vezes, então moveu novamente a cabeça, descobrindo que pela janela entrava a alaranjada luz do entardecer, enquanto o relógio anunciava faltar poucos minutos para as 6 horas da tarde. Retornou a cabeça à posição inicial e notou que este evento não lhe fora tão desgastante quanto o outro. Animado por esta idéia sentiu-se encorajado a mover os membros, “Quem sabe até ficar em pé?”, pensou. Sua primeira aventura no mundo do corpo foi frustrada antes de iniciar, com a abertura da porta pela enfermeira trazendo a refeição. Logo atrás vinha o homem de branco, “Provavelmente o meu médico”.
O esforço realizado a pouco, para olhar o quarto o havia deixado exausto, por isso não arriscava olhar o relógio, embora fosse imperativo saber as horas (estava faminto). Respirou fundo e vagarosamente por três vezes, então moveu novamente a cabeça, descobrindo que pela janela entrava a alaranjada luz do entardecer, enquanto o relógio anunciava faltar poucos minutos para as 6 horas da tarde. Retornou a cabeça à posição inicial e notou que este evento não lhe fora tão desgastante quanto o outro. Animado por esta idéia sentiu-se encorajado a mover os membros, “Quem sabe até ficar em pé?”, pensou. Sua primeira aventura no mundo do corpo foi frustrada antes de iniciar, com a abertura da porta pela enfermeira trazendo a refeição. Logo atrás vinha o homem de branco, “Provavelmente o meu médico”.
- Vamos lá, amigo. Deve estar faminto. Garanto que esta refeição vale o
esforço de sentar-se! Disse o homem sorridente com sinceridade nas palavras.
Era um homem alto e muito magro. De cabelos e olhos muito negros, e barba
espessa no rosto. Não fosse o branco que vestia dificilmente seria tomado por médico.
Usava óculos de lentes finas e redondas, sendo este o único aparato visível. Nada
de máscara, estetoscópio, ou qualquer outra coisa que se pudesse esperar em um
médico. Já sentado, o paciente notou que não havia crachá. À sua frente a
enfermeira, também sem crachá, colocou um objeto plástico com apoios em cada
lado de suas pernas, objeto este que lhe serviu de mesa. Ali lhe foi
apresentado um prato fundo de uma sopa não muito fina, um caldo, com alguns
pedaços pequenos de legumes. Um copo descartável com suco de laranja e outro,
menor, com gelatina amarela (não foi capaz de identificar o sabor). A mulher
saiu enquanto o homem de barba se sentava em uma poltrona à esquerda da cama. Não
disse mais nada, assistindo pacientemente a refeição do homem da cama. Como se
fosse vidente, a enfermeira retornou ao quarto no exato momento que ele terminou
de comer, retirando todos os objetos de seu colo e saindo do quarto em um silêncio
solene.
O homem sentado na cama voltou o olhar ao homem de barba, esperando deste
algum tipo de comentário, apresentação ou qualquer coisa assim. Nada aconteceu.
Apenas o olhar negro impassível e impenetrável fitando-lhe de volta. A
imobilidade do homem contrastava com a cortesia de minutos antes, deixando o
homem da cama ainda mais perdido. Sentiu-se em um jogo e perdeu, pois foi o
primeiro a desviar o olhar. Focando algum lugar vazio escondido atrás do relógio,
decidiu quebrar o silêncio, já incomodado com o tambor do mesmo.
- Você pode me dizer o que faço aqui?
- Posso! Respondeu pontualmente o homem de barba. Nenhuma palavra mais.
- E vai dizer?
- Você quer que eu diga?
- Veja bem! Eu não sei se você é médico nem sei o que estou fazendo aqui,
mas não imagino que irritar um homem acamado seja tratamento adequado para
qualquer mal que seja!!! Ralhou o não mais faminto homem da cama.
- Tudo ao seu tempo, meu amigo. Perdoe-me! De modo algum foi minha intenção
irritá-lo, por outro lado, talvez seja prudente que se atente às questões que
faz. Perguntar mal te faz perder o direito de reclamar, caso eu responda mal.
Continua em #Vazio - Outra Manhã (3)
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