Marcus ficou aterrorizado. Jamais esteve em situação semelhante. Nunca
fora sequer furtado. Temeu desesperadamente por sua vida. Não ousou desafiar a
lamina, acusando-a de ilusória.
- Estou apenas caminhando. Não sigo ninguém. Nem imaginava existir alguém
para seguir. Sentiu aumentar a pressão da fina ponta em sua nuca. Não percebeu,
mas um filete de sangue escorreu até o colarinho de sua camisa cinza.
- Por favor, tire isto daí. Estou completamente perdido. Não faço ideia do
que faço aqui, mas garanto que não o seguia.
O metal se afastou, mas não teve coragem de se virar. Esperou, mas o
agressor não disse mais nada. Não sabia se estava ali, pronto para o derradeiro
golpe ou se tinha partido. Arriscou:
- Posso me virar?
- Não me lembro de ter dito que não podia!
Ao virar-se notou um homem baixo, mas em forma, trajando roupas simples,
mas limpas. Tênis branco, calça de moletom azul marinho e uma camiseta com ilustrações
desbotadas. No chão apoiava um cabo de vassoura, na extremidade oposta um
canivete amarrado com cadarço.
- Sabe onde estamos?
Após um olhar triste para o Oeste, o homem respondeu:
- Ora bolas! Estamos em São Cristovam! Capital de nosso amado país, que o
“Vento” o tenha!
- Não creio que estejamos em São Cristovam! Protestou Marcus, ainda
pensando em sonhos e ilusões.
- Não se iluda! Estamos exatamente no território da capital. Ela é que se
foi!
- Eu cresci em São Cristovam. Insistiu o homem dos pés molhados. Garanto
que não era água que se via ao subir a estrada da serra.
- E não era deserto que se via aqui do alto, não é mesmo? Mas estamos
aqui, sem sermos carregado para lugar algum, portanto, estamos onde estávamos
quando fomos dormir. Não nos cabe discutir onde estamos, mas sim o que foi que
aconteceu com este lugar!
- Isto só pode ser um pesadelo!
- Então por que não acordamos?
- Mas eu acordei. Estou no hospital sob os cuidados do Dr. Willian.
- Você acordou? Acordar de onde? Para onde? Olhe em volta, meu rapaz. Isto
é o que restou do mundo, e é tão real quanto a ferida em seu braço.
Antes de conseguir terminar a frase “Mas não tenho nada no braço” um ágil
movimento das mãos do estranho imprimiu-lhe um corte de cerca de 7 centímetros
próximo ao pulso. Não foi profundo, mas dolorosamente concreto.
Continua em #Vazio - Outra Manhã (8)
Nenhum comentário:
Postar um comentário