quarta-feira, 19 de outubro de 2011

#Vazio - Outra Manhã (7)


Marcus ficou aterrorizado. Jamais esteve em situação semelhante. Nunca fora sequer furtado. Temeu desesperadamente por sua vida. Não ousou desafiar a lamina, acusando-a de ilusória.
- Estou apenas caminhando. Não sigo ninguém. Nem imaginava existir alguém para seguir. Sentiu aumentar a pressão da fina ponta em sua nuca. Não percebeu, mas um filete de sangue escorreu até o colarinho de sua camisa cinza.
- Imaginava não existir alguém? E por que não haveria? Você está aqui, não está?
- Por favor, tire isto daí. Estou completamente perdido. Não faço ideia do que faço aqui, mas garanto que não o seguia.
O metal se afastou, mas não teve coragem de se virar. Esperou, mas o agressor não disse mais nada. Não sabia se estava ali, pronto para o derradeiro golpe ou se tinha partido. Arriscou:
- Posso me virar?
- Não me lembro de ter dito que não podia!
Ao virar-se notou um homem baixo, mas em forma, trajando roupas simples, mas limpas. Tênis branco, calça de moletom azul marinho e uma camiseta com ilustrações desbotadas. No chão apoiava um cabo de vassoura, na extremidade oposta um canivete amarrado com cadarço.
- Sabe onde estamos?
Após um olhar triste para o Oeste, o homem respondeu:
- Ora bolas! Estamos em São Cristovam! Capital de nosso amado país, que o “Vento” o tenha!
- Não creio que estejamos em São Cristovam! Protestou Marcus, ainda pensando em sonhos e ilusões.
- Não se iluda! Estamos exatamente no território da capital. Ela é que se foi!
- Eu cresci em São Cristovam. Insistiu o homem dos pés molhados. Garanto que não era água que se via ao subir a estrada da serra.
- E não era deserto que se via aqui do alto, não é mesmo? Mas estamos aqui, sem sermos carregado para lugar algum, portanto, estamos onde estávamos quando fomos dormir. Não nos cabe discutir onde estamos, mas sim o que foi que aconteceu com este lugar!
- Isto só pode ser um pesadelo!
- Então por que não acordamos?
- Mas eu acordei. Estou no hospital sob os cuidados do Dr. Willian.
- Você acordou? Acordar de onde? Para onde? Olhe em volta, meu rapaz. Isto é o que restou do mundo, e é tão real quanto a ferida em seu braço.
Antes de conseguir terminar a frase “Mas não tenho nada no braço” um ágil movimento das mãos do estranho imprimiu-lhe um corte de cerca de 7 centímetros próximo ao pulso. Não foi profundo, mas dolorosamente concreto.

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