terça-feira, 25 de julho de 2023

Fruto

 Mirou-o firme, nos olhos, e então estendeu a mão

Com ela entregava um fruto, mas não o conto do Adão

Recebido o doce presente, silencioso agradecimento

Há certas coisas na vida que dispensam parlamento


Saboreou a iguaria, mas não sem a dividir

Provaram juntos, felizes, coração a sorrir

Olhavam o horizonte, a tarde que terminara

Parecia que o próprio Sol, com tudo se encantara


Foi ele que quebrou o silêncio, tentando fazê-la rir

Certeiro foi o intento, mas calou-se, "quê está por vir?"

Tentou alcançá-la de novo, com alguma conversação

Pagou-lhe em palavras rasas, voltando à inação


Terceira chance ele deu, dizendo um cumprimento

Somente "Olá" recebeu, por que esse sofrimento?


Calou-se, não desistiu, apenas não quis forçar

Em todo fruto há semente, um dia há de brotar

Calado ficou um dia, e outro e então três

E então surge um presente, da moça que era a vez


Saudou-lhe, foi comedida, "Bom dia! Tá tudo bem?"

E ele, cortês, sorrindo, respondeu como convém

Menina falou do fruto, aquele do outro dia

Da tarde, da brisa e o tempo, das coisa de que sorria


Falou-lhe então de um ponto, um algo que não previu

Sorria ao ver o mundo, mas menos se não o viu

E ele ficou corado, vermelho como maçã

E ela pegou-lhe a mão, no rádio o Djavan


Sorriram, novo silêncio, daqueles que há no filme

Sem fuga, restou-lhes beijo, carinho se fez costume 

O fruto de um encontro, de almas e emoção

Formou-se algo inefável, profunda conexão

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