Mirou-o firme, nos olhos, e então estendeu a mão
Com ela entregava um fruto, mas não o conto do Adão
Recebido o doce presente, silencioso agradecimento
Há certas coisas na vida que dispensam parlamento
Saboreou a iguaria, mas não sem a dividir
Provaram juntos, felizes, coração a sorrir
Olhavam o horizonte, a tarde que terminara
Parecia que o próprio Sol, com tudo se encantara
Foi ele que quebrou o silêncio, tentando fazê-la rir
Certeiro foi o intento, mas calou-se, "quê está por vir?"
Tentou alcançá-la de novo, com alguma conversação
Pagou-lhe em palavras rasas, voltando à inação
Terceira chance ele deu, dizendo um cumprimento
Somente "Olá" recebeu, por que esse sofrimento?
Calou-se, não desistiu, apenas não quis forçar
Em todo fruto há semente, um dia há de brotar
Calado ficou um dia, e outro e então três
E então surge um presente, da moça que era a vez
Saudou-lhe, foi comedida, "Bom dia! Tá tudo bem?"
E ele, cortês, sorrindo, respondeu como convém
Menina falou do fruto, aquele do outro dia
Da tarde, da brisa e o tempo, das coisa de que sorria
Falou-lhe então de um ponto, um algo que não previu
Sorria ao ver o mundo, mas menos se não o viu
E ele ficou corado, vermelho como maçã
E ela pegou-lhe a mão, no rádio o Djavan
Sorriram, novo silêncio, daqueles que há no filme
Sem fuga, restou-lhes beijo, carinho se fez costume
O fruto de um encontro, de almas e emoção
Formou-se algo inefável, profunda conexão
Nenhum comentário:
Postar um comentário