"Casualidade é fácil de crer, mas não tenho certeza que exista!"
Disse ela ao rapaz, e "Espero que não persista!"
"Me desculpe por insistir!", foi como ele retrucou
"Mas só creio no aleatório!", parece que protestou
"Casualidade tem dessas coisas, confunde o entendimento
Pois se nada que há tem razão, a vida é um lamento
Se hoje te encontro aqui, tens algo para aprender;
Também contigo eu aprendo", a moça tentou dizer
"É frágil o que quer propor. Dizer-me que há motivo;
Se tudo está escrito, meu ato não tem sentido!"
O moço rejeita o ponto, a moça perdeu o vigor
Ainda que discordassem, respeito era o senhor
"Te lembras? faz muitos anos, cá mesmo nos encontramos
Conversas fugasses, bestas, e logo nos separamos!"
Ela narrou o passado, ele apenas concordou
"Mas onde chegas com isso?", foi o que ele perguntou
"Todo o encontro tem propósito, há troca, aprendizado
Mas se não se sabe disso, é tudo desperdiçado,
Agora temos outra chance, e somos bem mais maduros
Podemos sorver do mundo, conhecimentos mais puros "
"Então queres insistir, que o encontro não é acaso
Mas onde fica a liberdade? Se tudo tem ordem e prazo?"
"Perceba o que proponho, o encontro é necessário
Mas és livre a decidir, se fica, se escuta ou saio "
"E se decido partir, rejeitando o que dirias
Não fica provado assim, que só por acaso virias?"
"O acaso e o motivo se misturam no existir
É assim que nos garantem a chance de decidir "
"Tá cerco, vou me calar. Te ouvindo até o fim
Mas preciso que entenda, não sei se isso fica em mim"
Sentaram, é fim da tarde, num canto ali no centro
Café e algum salgado, risadas e algum vento
Pra ele tudo é diverso, vivemos por acidente
Pra ela no Universo o motivo é evidente
Perderam noção do tempo, partiram sem encerrar
Marcou-se outro momento, para a contenda solucionar
Sozinho em casa à noite, ele relembrou do assunto
As frases, como um açoite, o confundiam, e muito
De noite ele teve sonhos, e há tempos que não sonhava
Se viu menino no escuro, e de terror lamentava
Surgiu então uma "mina", com voz doce e cortês
Pegou a mão do menino, foi isso que ela fez
Quando ele olhou em volta, nada havia mudado
Ainda era tudo escuro, mas algo foi revelado
"Menina, que faz aqui? É tarde. É perigoso!"
"Menino, eu vim por ti. Se juntos é tudo um gozo."
Então ficaram de pé, e o mundo se acendeu
Notaram, era um jardim, o rosto resplandeceu
"É claro, não há perigoso. E acho que nunca houve."
"É isso, querido menino, mas não vemos se o medo move."
Acordou pensativo, tentando entender o sonho
Naquele mesmo dia o encontro, e ele partiu risonho
Se encontram noutro canto, um que ela escolhera
Espanto, era mesmo o jardim, do sonho que lhe ocorrera
Ele guardou para si, temia ser infantil
Então ela disse assim, como um tiro de fuzil
"Sonhei contigo essa noite. Passamos por este ponto
Mas não falamos do acaso, o medo era o assunto!
Notei que quando sozinhos, a noite estava escura
Mas bastou o encontro, amigo, e tudo se fez ternura"
O homem ficou calado, pois tudo se encaixou
Narrou-lhe que do seu lado, o mesmo se operou
E ambos sorriram bobos, tentando se entender
E tudo ficava claro, durante o entardecer
E nunca mais se afastaram, duas vidas, muitos momentos
E a todos que encontravam, falavam desses eventos
E sempre que ela explicava, às pessoas sobre esse caso
Ele falava, e ria, "Nos encontramos por acaso!"
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