quinta-feira, 27 de julho de 2023

O Acaso

 "Casualidade é fácil de crer,  mas não tenho certeza que exista!"

Disse ela ao rapaz, e "Espero que não persista!"

"Me desculpe por insistir!", foi como ele retrucou

"Mas só creio no aleatório!", parece que protestou


"Casualidade tem dessas coisas, confunde o entendimento

Pois se nada que há tem razão, a vida é um lamento

Se hoje te encontro aqui, tens algo para aprender;

Também contigo eu aprendo", a moça tentou dizer 


"É frágil o que quer propor. Dizer-me que há motivo;

Se tudo está escrito, meu ato não tem sentido!"

O moço rejeita o ponto, a moça perdeu o vigor 

Ainda que discordassem, respeito era o senhor 


"Te lembras? faz muitos anos, cá mesmo nos encontramos

Conversas fugasses, bestas, e logo nos separamos!"

Ela narrou o passado, ele apenas concordou

"Mas onde chegas com isso?", foi o que ele perguntou


"Todo o encontro tem propósito, há troca, aprendizado

Mas se não se sabe disso, é tudo desperdiçado,

Agora temos outra chance, e somos bem mais maduros

Podemos sorver do mundo, conhecimentos mais puros "


"Então queres insistir, que o encontro não é acaso

Mas onde fica a liberdade? Se tudo tem ordem e prazo?"

"Perceba o que proponho, o encontro é necessário

Mas és livre a decidir, se fica, se escuta ou saio "


"E se decido partir, rejeitando o que dirias

Não fica provado assim, que só por acaso virias?"

"O acaso e o motivo se misturam no existir

É assim que nos garantem a chance de decidir "


"Tá cerco, vou me calar. Te ouvindo até o fim

Mas preciso que entenda, não sei se isso fica em mim"

Sentaram, é fim da tarde, num canto ali no centro

Café e algum salgado, risadas e algum vento


Pra ele tudo é diverso, vivemos por acidente

Pra ela no Universo o motivo é evidente

Perderam noção do tempo, partiram sem encerrar

Marcou-se outro momento, para a contenda solucionar


Sozinho em casa à noite, ele relembrou do assunto

As frases, como um açoite, o confundiam, e muito 

De noite ele teve sonhos, e há tempos que não sonhava

Se viu menino no escuro, e de terror lamentava


Surgiu então uma "mina", com voz doce e cortês

Pegou a mão do menino, foi isso que ela fez

Quando ele olhou em volta, nada havia mudado

Ainda era tudo escuro, mas algo foi revelado


"Menina, que faz aqui? É tarde. É perigoso!"

"Menino, eu vim por ti. Se juntos é tudo um gozo."

Então ficaram de pé, e o mundo se acendeu

Notaram, era um jardim, o rosto resplandeceu


"É claro, não há perigoso. E acho que nunca houve."

"É isso, querido menino, mas não vemos se o medo move."

Acordou pensativo, tentando entender o sonho

Naquele mesmo dia o encontro, e ele partiu risonho


Se encontram noutro canto, um que ela escolhera

 Espanto, era mesmo o jardim, do sonho que lhe ocorrera

Ele guardou para si, temia ser infantil 

Então ela disse assim, como um tiro de fuzil


"Sonhei contigo essa noite. Passamos por este ponto

Mas não falamos do acaso, o medo era o assunto!

Notei que quando sozinhos, a noite estava escura

Mas bastou o encontro, amigo, e tudo se fez ternura"


O homem ficou calado, pois tudo se encaixou

Narrou-lhe que do seu lado, o mesmo se operou

E ambos sorriram bobos, tentando se entender

E tudo ficava claro, durante o entardecer


E nunca mais se afastaram, duas vidas, muitos momentos 

E a todos que encontravam, falavam desses eventos 

E sempre que ela explicava, às pessoas sobre esse caso

Ele falava, e ria, "Nos encontramos por acaso!"

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