Sem sono, vim para fora
Está menos frio que esperava
Quase três da manhã, eis a hora
Lua nova aqui não aguardava
Vejo as nuvens marchando no céu
Oceano que ruma pro leste
Das estrelas tornaram-se véu
Vi balão, um luzeiro que preste
No passado anotava meu sonho
Escrevia, aprendia, lembrava
Em vigília registro o que exponho
Vou pra onde minh'alma apontava
O balão já sumiu, se queimou
Curta vida, mas alto viveu
Novamente, só nuvem restou
Ciclo belo, da água, se deu
Se um anjo, este mundo espiasse
Via caos, bagunça, maldade
Mas se o olhar sobre nós demorasse
Talvez visse que resta bondade
Há janelas com luz, claridade
E uns postes vencendo a penumbra
É assim cá em toda cidade
E ainda um som que retumba
Se hoje vigiei em exceção
Não é assim em toda paragem
Há trânsito, buzina, movimentação
Para muitos dormir é bobagem
Neste bairro cresci, abismado
Na noite sempre chamou minha atenção
No ar frio um cheiro de queimado
Sempre esteve, junto à cerração
Lembra que já descrevi o horizonte?
Casas altas me escondem o poente
Nesta hora, tão tarde, são monte
Paredão contra o céu que é movente
"Cão que ladra não morde", é o dito
Mas aqui se provocam, a latir
Toda noite conversam, qual rito
Invasores pretendem banir
Já há "busos", ouço ali na avenida
Há quem volte e quem vá trabalhar
Minha insônia, bem vinda, atrevida
Não impede de me preocupar
Já é tarde, vem logo o meu turno
É prudente um pouco deitar
Mas me prende este texto noturno
Ele insiste em não terminar
Já há galos, escuto ao longe
Não esperava tão cedo os ouvir
Este horário é coisa de monge
Que tão cedo já passa a existir
Cantam aves, é cedo, não ligam
E se a Lua também as chamou?
Catam versos, será? Se emperdigam
Nesta noite que se formou
Trinta e sete minutos, três horas
Sou obrigado a me retirar
Começou garoar, ora bolas
São as nuvens a me expulsar
Lua nova, céu branco, seresta
Desta noite vou me lembrar
Uma estrela surgiu, numa fresta
Deu "boa noite", vou me deitar
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